Amigos Amigos..Praxe À Parte

by - outubro 21, 2017



Este não é um post que se enquadre propriamente no tipo de posts que costumo fazer, não é de beleza, não é de estilo de vida, tendências ou novidades é um post de opinião, não é uma realidade objetiva. Nem todos se vão identificar mas mesmo assim, é uma perspetiva. É a minha perspetiva. Não é um conjunto de coisas sem fundamento ou invenções, nem um conjunto de hipérboles, foi a realidade que eu encontrei e logo a única sobre a qual posso escrever. Este é um post sobre um assunto um tanto controverso: a Praxe. Há quem a odeie e há quem a adore, tudo por boas razões.  E depois há também quem "enfie a cabeça na areia" e fale sem saber ou alguma vez ter passado por alguma coisa só por ter lido uns artigos ou ter visto umas reportagens da TVI, enfim, nada de jeito porque suposições são como chapéus, há muitas (seu palerma). No meu caso foi a segunda. 

Se perguntarem a qualquer ser minimamente culto (ou por miúdos qualquer ser da espécie homo sapiens sapiens) a definição de "praxe" vão vos dizer que é um conjunto de atividades lúdicas com o objetivo de integrar e de fazer os recém chegados caloiros (ouvir a palavra ainda me dá uma espécie de arrepios) conhecerem-se entre si e aos colegas mais velhos que supostamente os vão ajudar depois e vão ser todos best friends..só que não. Ainda pensei que houvessem talvez alternativas lógicas, praxes solidárias em que vamos fazer compras para dar a instituiçoes ou fazer voluntariado num lar de idosos, em vez disso acabei deitada no chão. Muitas vezes ouvimos nas notícias a palavra 'anti-praxe' mas só na universidade descobrimos o quão essa palavra é nela usada até perder o significado. Desististe? És anti-praxe. Desobedeceste ao superior? És anti-praxe. Não te querem mais lá? És anti-praxe. Faltaste mais do que podias (o que já agora não é muito)? És anti-praxe. Olhaste para o teu superior? Foste mal educado e agora és anti-praxe. Somente respirar na direção de um superior pode ser considerado um desrespeito do caraças porque caloiro é bicho do mato e não chega nem perto do nível das divindades praxisticas. Desculpem se soa irónico ou sarcástico, juro que não o estou a tentar ser mas siga. 

Não sou nem nunca fui anti-praxe. Sou a favor do que a praxe é suposto ser, da integração, das brincadeiras, da tontisse e foi por isso que inocentemente, lá entrei e estive 2 semanas inteiras (de 4). Porque não conhecia nada, porque ingenuamente pensei que ia ser divertido e pensei que fosse valer a pena. Em vez disso, deparei me todos os dias a questionar porque raios ainda lá continuava desde o primeiro dia. 

Passávamos lá o dia todo de manhã á noite, assim que saíssemos das aulas até as tantas da noite. No meu último dia dormi apenas duas horas antes de uma aula de manhãzinha e tive de tomar banho às 4 da manhã que foi quando cheguei a casa. A toda a hora nos diziam que aquilo 'nem era nada' e que noutros anos era bem pior. A minha melhor amiga saia às 8 da noite, eu às 2 da manhã. Passávamos 90% do tempo a olhar para o chão até nos doer o pescoço todo e ficarmos tontos, não podíamos olhar para cima nem rir ou enganar nos nomes dos colegas mais velhos. Senão era logo tudo de quatro ou de três ou do que fosse. Foi nos ensinado que éramos um e se um se lixava, lixávamos-nos todos. Era nos constantemente dito que éramos uma merda e que tudo o que fazíamos estava mal. No inicio tem graça, tudo bem mas ao fim de algum tempo torna se desmotivante.

 É nos dito que não somos obrigados a fazer nada, mas na realidade a canção é outra. Se nos recusarmos a fazer algo, estamos basicamente a pedir para nos lixarmos ainda mais, porque o caloiro não pensa, o caloiro obedece e cala. Dizem nos muitas vezes na vida, "Se te dissessem para saltar de uma ponte, saltavas?" e nós dizemos "Claro que não." Na praxe dizem nos "Se te dissessem para saltar de uma ponte, saltavas?" e o caloiro é suposto já estar a meio do ar.  

Ouvi com cada coisa enquanto lá estive..Com cada hipocrisia e estupidez.."Lições" de "boa educação", que eu era uma "besta" ou "burra" porque me recusava a fazer coisas com as quais não me sentia confortável ou achava que não afetava de qualquer maneira o meu desempenho na praxe ( na minha opinião, mais uma vez). De facto não tinha paciência, foi uma ideia tonta ter para lá ido. Foi uma ideia tonta achar que aquilo era para mim ou ter lá ficado tanto tempo á espera daquela razão de que tanto me falavam, daquela integração e amizade com os superiores..Nada. 

Houve muito boa gente que foi simpática comigo e me veio perguntar várias vezes se estava bem, que disse que me queriam bem e agradeço lhes isso. Gente que veio ter comigo e me disse que valia a pena, que me levou a casa, que se preocupou. Momentos divertidos mas no fundo tudo o que ficou foi um gosto azedo. Fez me mais mal do que bem.

 Lembro de me terem perguntado uma vez em conversa onde tinha conhecido mais colegas mais velhos e até da mesma idade, dentro ou fora da praxe e nessa altura disse "Dentro" e responderam-me "Pois." mas pensando em retrospetiva, conhecer é relativo. Conheço lhes talvez os pés ou a voz, mas na verdade não sei nada sobre eles. Nunca falaram para mim fora daquele contexto. Lembro me de um dia uma rapariga ter chegado meia hora atrasada (imperdoável, não é) e a terem castigado e gritado com ela. A última coisa que ela disse antes de sair em lágrimas foi "Tonto é quem aqui fica.", e isso meteu me a pensar. 

Todos os dias de lá saí uma pilha de nervos, todos os dias me convidaram a sair e de facto a estupidez maior foi minha de pensar que aquilo era vida para alguem. Nunca consegui encontrar a razão porque estava realmente a fazer aquilo. Queria trajar ( o que não requer praxe, descobri depois), queria ir ao batismo que parecia super fixe, gritar na latada, mostrar orgulho pelo curso mesmo que fosse baixinho mas não queria fazer ninguém passar por aquilo. Uma vez disse "Quero andar de traje mas não quero fazer ninguém passar por isto. Isto é demais. Ninguém merece." e sempre mantive essa ideia. 

Quando finalmente me libertaram das minhas responsabilidades praxisticas  enquanto caloira senti um certo alívio. Senti que ia ser mais excluída por não fazer parte mas ficou tudo na mesma e a verdade é que a praxe não dura para sempre. Não aparece no nosso currículo, não nos torna melhores do que os outros ou por essa lógica, piores.  Disseram-me nessa altura que podia tentar para o ano mas não me deixavam fazer mais porque era mal educada e para pensar 'nas minhas ações'. 

Não voltava nem que me pagassem. Descobri de ter para lá ido que aquilo não era para mim. Podia ter fugido, mas não o fiz. Experimentei. Não me arrependo disso. Não me arrependo de ter conhecido quem conheci mas no fundo tudo isso foi conseguido por mim, a praxe apenas o facilitou.

Nem todas as praxes são iguais. Compreendo isso e respeito-o. Há praxes integrantes, divertidas. Nem tudo é mau. O meu caso é apenas um de muitos e o meu balanço apesar de tudo não pode ser positivo. Não valeu a pena. Todos os dias me levantei e voltei esperando que as coisas fossem diferentes, todos os dias me foi provado que mais uma vez, estava errada. Houve gente que me fez sentir quase como se me quisessem ali, mas houve gente que me fez sentir que apenas estava importada em demonstrar a sua superioridade em relação a nós e conseguir umas massagenzitas no ego.  Déssemos o que déssemos, mesmo que não fosse tudo não era suficiente. Não dei tudo, é verdade mas dei mais do que conseguia e de certa forma, esse foi o meu erro.  A praxe foi difícil mas no fundo, o caminho que parecia pior foi o mais acertado.
 Não tenham medo de experimentar, não liguem a tudo o que dizem nas noticias, mas antes ao que VOCÊS pensam. Saibam dizer não mesmo que vos digam que não o podem fazer. Saibam os vossos limites. Acima de tudo, boa sorte e saibam que o vosso valor não é determinado por uma atividade facultativa.

P.S/Disclaimer - Este post foi inspirado por este que vi no Uniarea. Não era para dizer nada mas quando vi este post e vi realmente o quão me identificava com aquilo decidi faze-lo. Este post não é para ser uma "provocação" a ninguem, não estou a apontar dedos, não estou a difamar, tudo o que escrevi foi, como disse aquilo que eu senti. Para quem foi e gostou, tudo bem. Para quem foi e não gostou também.



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